Muito mais frequente que a
depressão franca, a Distimia é a denominação psiquiátrica do mau humor
Distimia ou Transtorno
Distímico é uma forma cronica de depressão, cuja gravidade costuma ser
menor do que a Depressão Maior. Em benefício de melhor entendimento,
felizmente parece haver um consenso de que o chamado Transtorno Depressivo
Maior, a Distimia e algumas Disforias (rebaixamentos do
estado de humor) transitórias seriam manifestações de um mesmo processo
patológico, o qual resulta em sintomas depressivos. Tal variedade de estados de
humor deprimido compartilha os mesmos sintomas, responde aos mesmos
medicamentos antidepressivos e podem ser abordados por técnicas
psicoterapêuticas similares.
Geralmente o paciente com Distimia costuma
ter o humor algo depressivo a maior parte do tempo, mas não expressivamente
depressivo como acontece na Depressão Maior. Pode apresentar
inquietação, ansiedade e sintomas neurovegetativos, como por exemplo, queixas
digestivas, cardiocirculatórias, musculares, dor de cabeça. É muito marcante
nos distímicos a tendência em dedicar pouco tempo para actividades de lazer,
valorizando em excesso actividades produtivas. Outros sintomas que chama a
atenção é a tendência à irritabilidade, ironias, crises de raiva e excesso de
críticas.
É certo entender a Distimia como uma síndrome
depressiva de grau leve ou moderado, cujos sintomas são persistentes e cuja
prevalência é maior do que a Depressão Maior.
Os critérios oficiais para diagnóstico de distimia foram estabelecidos pela
primeira vez na terceira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico da
Associação Psiquiátrica Americana (DSM.III), em 1980.
(…)
Resumindo, Distimia é um transtorno depressivo
do humor, tem natureza crónica, se inicia insidiosamente desde a infância ou
adolescência e não tem sintomas graves o suficiente para ser diagnosticada como
Depressão Maior, ou seja, o transtorno é considerado como uma
depressão de baixa intensidade, flutuante e duradoura.
Alguns pacientes distímicos, de facto, não se queixam
propriamente de tristeza, entretanto, queixam muito apropriadamente de falta de
alegria de viver: “- doutor, eu não estou com tristeza, mas também não
sinto alegria ou prazer com nada”. Além disso, os próprios distímicos
manifestam grande preocupação com sua inadequação. Quer dizer, eles mesmos
sabem que são “chatos” e lamentam por isso.
Muitas pessoas com Distimia relatam que
estiveram deprimidas durante toda a sua vida e acabam tendo uma concepção
existencial deturpada pelo mau humor crónico. Geralmente elas se auto-definem
como tristes ou "na fossa", mas geralmente são definidas pelas outras
como mal-humoradas, amargas, irónicas e implicantes. Embora a Distimia
seja considerada menos grave que a Depressão Maior, suas consequências
podem ser graves e incluem prejuízo grave do desempenho familiar, social e
profissional, aumento de sintomas físicos e doenças psicossomáticas e aumento
do risco de desenvolver Depressão Maior.
Em geral esses pacientes costumam ser tensos, rígidos e
resistentes às sugestões de terapia. Como frequentemente eles podem ser
sarcásticos, rabugentos, exigentes e queixosos, não é raro que o médico de
outras especialidades sinta-se irritado com eles. Apesar disso, o funcionamento
social das pessoas com Distimia é relativamente estável e muitas delas
investem sua energia fortemente no trabalho, desprezando quase totalmente o
prazer, as actividades familiares e sociais. (Akiskal, 1999)
A prevalência da Distimia na população geral é
assustadora. Alguns autores cogitam ser aproximadamente de 3 a 6% da população geral os
portadores de Distimia (Seretti, 1999 – Akiskal, 1994 – Avrichir,
2002), sendo um dos quadros clínicos mais comummente encontrados na prática
médica. Em relação à distribuição da Distimia entre homens e mulheres, o
transtorno é relativamente mais frequente em mulheres, embora não tanto como
acontece na Depressão Maior, onde a proporção é de 2:1.
A despeito da imensa população de distímicos, esses pacientes
não procuram ou relutam muito em procurar tratamento específico para a questão
emocional, apesar de se manterem sempre muito queixosos e insatisfeitos com a
vida. Trata-se de uma alteração afectiva bastante incómoda, não só do ponto de
vista emocional, fazendo sofrer o paciente e, comummente, quem com ele convive,
como também do ponto de vista orgânico, se manifestando por inúmeros sintomas
físicos, os quais acabam fazendo com que os pacientes procurem os médicos com
queixas vagas e mal definidas, tais como mal-estar, letargia e fadiga.
Por outro lado, se os distímicos relutam em procurar
ajuda psiquiátrica, a maioria deles procura médicos de outras especialidades e
geralmente eles não serão diagnosticados correctamente (Akiskal, 2001). Por
causa disso, inúmeros exames de laboratórios são inutilmente solicitados,
inúmeras consultas a especialistas são marcadas, muitos medicamentos são
inutilmente consumidos.
Prováveis
causas
Os mecanismos neuropsiquiátricos
envolvidos na Distimia ainda não foram claramente esclarecidos,
entretanto, já se pode falar em alterações nos sistemas neuroendócrinos,
principalmente no eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal e hipotálamo-hipófise-
tireoidiano, tal como acontece nas doenças depressivas em geral.
De fato, os dados do eletroencefalograma (EEG) durante o
sono e as anormalidades nos testes dos neuro-hormônios TRH-TSH das pessoas
distímicas mostram os mesmos padrões neurofisiológicos encontrados no Transtorno
Depressivo Maior, reforçando assim a natureza constitucional do transtorno
(Akiskal, 1994).
O envolvimento dos sistemas de alguns neurotransmissores
e neuroreceptores, tal como também acontece nas doenças depressivas em geral,
pela resposta positiva aos medicamentos que aumentam a disponibilidade de
serotonina, noradrenalina e dopamina.
A causa da Distimia, como tantos outros quadros afectivos,
é multifatorial. Entre esses múltiplos factores destacam-se a hereditariedade,
predisposição biológica, traços de temperamento, estressores vivenciais, entre
outros. Eventos de vida estressantes na infância podem ter um papel importante
no perfil afectivo distímico do adulto, segundo alguns pesquisadores (Hayden,
2001 - Lizardi, 2000).
(….)
Tratamento
clínico
A psicoterapia é um importante
componente do tratamento. Em geral a terapia cognitiva comportamental tem
demonstrado ser eficaz no tratamento de distimia. A terapia cognitiva
comportamental deve ser planejada para ser realizado por um tempo limitado,
cujos objectivos principais é fazer o paciente reconhecer as circunstâncias que
levam à depressão e estruturar a uma resposta emocional adequada.
Sobre o uso de medicamentos, existe evidência científica comparando o uso de
antidepressivo e o uso placebo para o tratamento medicamentoso da Distimia.
Estudos mostram que 50 a
60% dos pacientes com distimia respondem ao tratamento com antidepressivos
(Williams , 2000). Actualmente o tratamento considerado mais eficaz é aquele
que associa o uso de medicamentos com psicoterapia, principalmente a terapia da
linha cognitiva comportamental.
De fato, os antidepressivos são eficazes no tratamento em
curto prazo da distimia (Lima, 1999). Entre os antidepressivos indicados para o
tratamento da Distimia sugerem-se os serotoninérgicos, não só pela
eficácia terapêutica, como pela maior tolerabilidade. As doses geralmente são
as habituais, sem nenhuma evidência de que doses maiores sejam necessárias.
Apesar dos resultados dos antidepressivos serem
satisfatórios em curto prazo, isto é, em no máximo 12 semanas, deve-se
considerar a natureza crónica da Distimia. Isso quer dizer que há
possibilidades do mesmo perfil distímico voltar depois de algum tempo da
interrupção da medicação. Isso é um dos motivos pelos quais a psicoterapia tem
fundamental importância. Espera-se que depois de 12 meses de tratamento
medicamentoso juntamente com psicoterapia, o paciente tenha adquirido uma nova
atitude emocional não patogénica.